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Arquitetos: SUP Atelier
- Área: 120 m²
- Ano: 2018
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Fotografias:Su Chen, Chun Fang
Descrição enviada pela equipe de projeto. Implantado em um bosque no campus da Universidade Florestal de Pequim (BJFU), o “Pavilhão das Nuvens” é uma estrutura de bambu construída para o “Bamboo Garden Festival” de 2018. Encomendado pela administração da Universidade, o pavilhão se apresenta na forma de uma estrutura leve de bambu de aproximadamente 120 metros quadrados, a qual foi construída para operar como centro de informações durante o festival daquele ano.
Limitado por duas ruas a norte e a oeste, o terreno—de proporções retangulares— por outro lado, encontra-se cercado por um bosque. Concebido para ser convertido em um espaço multiuso após o término do festival, o Pavilhão das Nuvens se tornou um dos principais pontos de encontro e convivência da comunidade acadêmica da Universidade Florestal de Pequim.
Flexibilidade e Resistência à Flexão: As Vantagens do Bambu
Nos foi dada uma enorme liberdade para desenvolver o projeto do pavilhão, muito porque a situação do próprio terreno não nos impunha qualquer restrição. Como resultado disso, buscamos inspiração na própria paisagem natural do campus, apropriando-se do bambu como principal elemento construtivo e arquitetônico do projeto.
Compondo um sistema estrutural bastante simples e dinâmico, o bambu conta com uma série de características únicas—as quais nos permitiram desfrutar de uma completa liberdade formal durante o processo de projeto. Com excelente resistência à flexão e à tração, o bambu verde é uma material extremamente maleável e fácil de se processar. Utilizando modernos sistemas de processamento de bambu, pudemos melhor prever e controlar o desempenho da estrutura, facilitando ainda o processo de montagem—tanto na fábrica quanto no local da obra. Além disso, uma vez processado e seco, o bambu praticamente não se deforma mesmo quando exposto às intempéries.
Desta forma, a liberdade proporcionada pela ausência de limitação físicas do terreno e do entorno somada às vantagens anteriormente mencionadas de um sistema construtivo em estrutura de bambu, nos permitiu projetar o pavilhão de forma livre e descontraída, resultando em um edifício útil e duradouro.
Nuvens ao Vento: Um Processo de Projeto Reverso
Fomos buscar inspiração em um famoso verso de um antigo poeta chinês que diz: “Um vento forte se ergueu e varreu as nuvens do céu”. Pensando nisso, a equipe de projeto procurou traduzir a imagem descrita pelo poeta para a arquitetura, como se as nuvens tivessem moldado a própria estrutura do pavilhão. Ao longo do processo, onde os métodos tradicionais de construção de bambu foram interpolados com tecnologias modernas de projeto e construção, pudemos transpor com certa facilidade este conceito um tanto abstrato para um produto final minuciosamente detalhado. Como resultado, pudemos simular o desempenho do pavilhão digitalmente além de produzir uma série de documentos técnicos que nos auxiliaram durante o processo de montagem in loco.
Em comparação com os métodos mais tradicionais de estudos volumétricos, como a construção de maquetes e modelos em escala, procuramos desenvolver uma abordagem mais livre, empregando modelos digitais desde o princípio do processo. A partir disso, todos os componentes de bambu foram pré-fabricados em um ambiente controlado e depois transportados para a montagem no terreno. Desta forma, pudemos executar com precisão milimétrica algo que parecia impossível e até certo ponto, imprevisível e incontrolável. Somando-se a isso, com o auxílio de ferramentas digitais, pudemos aprimorar ainda mais a forma do edifício, alcançando assim uma maior eficiência da estrutura como um todo.
Considerando as pré-existências do terreno como as vias e caminhos que atravessam o campus, assim como a posição das árvores, arbustos e pedras, fomos esculpindo o modelo do pavilhão para criar suas várias aberturas, ângulos e curvas. Neste processo, procuramos favorecer a circulação pelo terreno assim como os eixos visuais através do campus. A vegetação arbustiva existente foi integralmente preservada e ampliada, trazida para dentro do espaço coberto pelo pavilhão. Como resultado, o pavilhão foi sendo moldado, adaptando-se às condições de iluminação e ventilação natural, incorporando a vegetação e por fim, estabelecendo sua atmosfera única.
A parte disso, passamos por várias etapas de compatibilização do projeto, onde comparávamos os modelos digitais criados com a proposta conceitual inicial. Depois de concluído o processo de modelagem, consultamos uma série de especialistas em estruturas e construção de bambu para certificar-nos da viabilidade de nossa proposta. No processo de montagem, instalamos primeiramente as curvas elementares, as quais organizam e distribuem os demais elementos estruturais do pavilhão.
Em seguida, fomos adicionando sucessivas camadas perpendiculares às anteriores até por fim estabelecer uma malha suficientemente fina para encaixar os elementos de cobertura. Com esta trama estabelecida, ponderamos a demanda por luz natural com a necessidade de proteção das intempéries e, a partir disso, fomos revestindo a estrutura com telhas de bambu e outros materiais translúcidos e maleáveis o suficiente para encaixarem-se da complexa geometria da estrutura de bambu.
Conexões de Encaixe e Cavilha: Análise Estrutural e Execução
O bambu verde é um material construtivo utilizado à séculos, seja para a edificação de edifícios, pontes ou estruturas temporárias—especialmente na região sul da China, onde o bambu é encontrado em abundância. Dispensando a necessidade de cálculos complexos, a construção em bambu tem se estabelecido como uma prática empírica e sob demanda. Suas formas e dimensões geralmente são determinadas pelos próprios construtores no momento da execução.
Neste caso específico, os componentes de bambu, cujos parâmetros foram estabelecidos previamente com o auxílio de um modelo paramétrico, foram pré-fabricados e numerados na fábrica e posteriormente montados no local. As vergas de bambu foram então ancoradas à fundações de concreto através de componentes metálicos parafusados. A partir dai, as varas subsequentes foram sendo instaladas de acordo com a expertise dos construtores, proporcionando a sensação de um pavilhão construído espontaneamente.
Procurando promover a iluminação natural direta e difusa sob a cobertura de de bambu, assim como a necessidade de espaços protegidos da chuva e do vento, a estrutura foi sendo coberta por telhas de bambu e elementos translúcidos acompanhados de uma camada de impermeabilização e um forro de junco como acabamento na parte inferior. A forma do pavilhão não foi pensada meramente para ser uma estrutura eficiente, ela também foi concebida para se transformar em um cone de luz que reflete e propaga os raios de sol. Uma leve inclinação na topografia natural do natural foi executada para facilitar a drenagem do terreno, evitando assim que as varas de bambu apodreçam em contato com a umidade excessiva do solo.
Combinando técnicas tradicionais de construção de bambu com tecnologias mais modernas de projeto, nos permitimos um certo nível de tolerância a erros. A dilatação natural assim como as rachaduras nas varas de bambu não se transformariam em um problema. Mesmo que a estrutura trabalhe, seus elementos também permitem pequenos ajustes—que ainda assim não podem ser considerados erros ou falhas de projeto. Dessa forma, a característica artesanal da construção em estrutura de bambu foi preservada.
Revisitando todo o processo de projeto e construção do pavilhão, esperamos que este edifício não seja considerado apenas uma simples estrutura temporária, mas um protótipo que possa servir como exemplo para futuro desenvolvimento de projetos similares em bambu, uma espécie de estrutura aberta que pode ser adaptada de acordo com as diferentes demandas e necessidades de cada situação específica.